Poucas marcas conseguem ser tão disruptivas quanto a Netflix. Um tempo atrás eu cheguei a postar um vídeo no meu canal apresentando as 3 lições de sucesso da Netflix que qualquer pessoa devia copiar. Acontece que 3 lições são muito pouco para dizer o quanto esta empresa tem acertado, tanto no que se refere a estratégias de mercado, quanto a marketing, inovação, ou tudo isso junto e misturado.

A Netflix entende o público dela como poucas empresas conseguem e se posiciona estrategicamente no meio de um furacão que envolve a indústria cinematográfica, a TV tradicional e a sociedade de uma forma geral. Acha que estou exagerando? Então dá só uma olhada nestes números:

  • Em março de 2017, a Netflix alcançou 50,9 milhões de assinantes, ultrapassando os 48,6 milhões de assinantes de TV no mercado americano.
  • Atualmente a Netflix atua em mais de 190 países.
  • A Netflix estima lançar 1.000 horas de conteúdos originais em sua plataforma em 2017.
  • Registrou lucro líquido de U$ 178 milhões no primeiro trimestre de 2017.

 

Desafiando gigantes da indústria

A implacável Hollywood, para a qual os holofotes do mundo estavam quase que exclusivamente apontados até outro dia, tem que lidar agora com uma “vermelhinha” chata que rouba seu público e o convida a trocar o trânsito, as filas, as telas gigantes e as superproduções que seguem a desgastada fórmula da jornada do herói (e que ainda funciona), pelo conforto do sofá, chocolate quente e a próxima temporada daquela série exclusiva, ou a sequência daquele filme que “eu não sei bem o porquê” tem muito a ver comigo.

Ela aprende comigo, me sugere filmes, muda as capas, me diz porque eu deveria assistir este filme ou série… e aos poucos vai melhorando. E quando eu vou nas redes sociais, ela sempre tem uma piadinha engraçada sobre minhas séries favoritas, que me faz sentir “insider” (expressão utilizada por marketeiros para dizer que você faz parte da tribo). Quer comprovar? Visite sua página no Facebook e testemunhe por si só o nível de engajamento que a marca consegue gerar com seu público. É lindo! Em se tratando de comunicação, é realmente incrível como consegue manter uma mesma linguagem em plataformas diferentes.

Não sabemos o que virá. Mas sabemos algo: isso não vai parar.

E o que era antes somente uma alternativa à velha locadora de vídeos (comenta aí se na sua cidade ainda existe uma ou se você mesmo frequenta uma ainda :o), agora passou a ser uma indústria que produz séries e filmes originais, os quais utilizam uma inteligência de dados fornecidos por seus próprios usuários (e seus “estranhos” hábitos de consumo) para criar produções que cativam cada vez mais. É o famoso caso da série Stranger Things.

A maior lógica que empresas como a Netflix subvertem é a de que tanta tecnologia e conforto só seria possível se o produto fosse extremamente caro. Muito bem, só que enquanto a assinatura do pacote mais acessível da Sky custa U$ 69,00 nos EUA, uma assinatura “completa” (na verdade o único plano que existe) da Netflix custa U$ 9,99. E talvez esta seja a principal razão para o número de assinantes já ter superado os da TV paga nos EUA.

 

E o que eu e você temos a ver com tudo isso?

Não entender a lógica que permite que toda essa transformação aconteça é como caminhar na orla, completamente despreocupado, enquanto o mar recua, instantes antes da próxima grande tsunami. Perceba: não entender o que significa o recuo do mar não te impedirá de sofrer as consequências desta onda. Ou: do cara que está ao seu lado vender a última vaga para um abrigo seguro contra os estragos do mar (se é que isto existe…). Para continuar nas metáforas, seria o mesmo que ser o último ser humano da Terra a comprar um telefone fixo pelo preço de um carro, minutos antes de lançarem o celular e os planos telefônicos.

O que aconteceu no mercado da Netflix, que fez ela simplesmente detonar com as locadoras e gerar sérios problemas à TV e à indústria cinematográfica, acontecerá em outros mercados também. Assim como aconteceu com o mercado de taxis (com empresas como Uber e Easy Taxi), ou no mercado de hotelaria (com empresas como a Airbnb), ou na educação, em empresas como a Udacity ou a própria BenchMarking, que conseguem oferecer cursos realmente relevantes a preços bem atrativos. Pode escrever. Não aconteceu no seu setor ainda? Então vai acontecer. Já aconteceu? E o que você fez? Comprou ao menos um bote?

 

“Ok. E o que eu faço?”

“E se eu quiser ser a próxima Netflix? Ou ao menos aplicar algumas de suas valiosas lições em meu mercado?” Você deve estar se perguntando. Então você precisa entender o que ela faz de verdade. Primeiro: escute seu cliente e observe com muita atenção seu comportamento. Apenas não considerar nenhum problema impossível de ser resolvido já é um excelente começo.

Perceba aquilo com o qual seu cliente se acomodou ou desistiu de lutar. Um problema tão presente para ele quanto o oxigênio, que você nem ele percebem mais, porque já virou paisagem. Pode ser aquela bainha que você não faz na calça do seu cliente; aquele pós-venda que você faz apenas de vez em quando; aquela mesma forma de atender desde que você iniciou no ramo e que nunca mudou porque sempre funcionou. É justamente isso que será o foco das novas revoluções.

Quer um conselho? Se tiver confortável demais, desconfie. Acione o radar. E comece a se mover. Olhe em volta. Porque neste exato momento é bem provável que tem ao menos uma meia dúzia de jovens nerds reunidos em uma garagem qualquer criando a próxima empresa que irá balançar seus negócios. A próxima Netflix no seu setor. E aí? Vai ficar aí parado? Então pelo menos estoura uma pipoca para assistirmos a um filme bacana, pode ser?!

 

Celso G. Dias Jr. – CEO e Co-founder / BenchMarking® Celso é administrador de empresas, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. É coach, consultor e empreendedor. Possui experiência em multinacionais, como Coca-Cola e Aché Laboratórios.